
Naquela manhã a chuva mostrou todo o seu poder.
Relâmpagos e trovões tentavam, em vão, assustá-la. Sempre que surgia uma imensa claridade seguida de um estrondo pavoroso ela simplesmente sorria.
Quando pequena aprendeu a gostar de ouvir a chuva e todos aqueles sons que a acompanhava. Muito tempo sem esses sons não era um bom sinal... Já dizia a sua mãe!
Apesar de o tempo ser ótimo para ficar em casa, bem agasalhada, lendo ou simplesmente admirando aqueles sons, ela preferiu fazer exatamente o contrário. Queria sentir o outro lado da vida já que nunca tinha se permitido. Em dias chuvosos só saia quando era realmente necessário. Dessa vez seria diferente! Buscou um guarda-chuva, vestiu uma roupa leve, porém escura, deixou os cabelos soltos e apenas com as chaves ao bolso, saiu de casa.
Para quê o guarda-chuva? Lembrou-se do ditado "se estava na chuva era para se molhar"! Ainda não estava tão distante de casa. Voltou e o jogou na varanda.
Preferiu sair assim, com os pingos lhe molhando a face e todo o corpo. Saiu feliz, saltitando e cantando diversas canções do seu agrado. Deu várias voltas em torno de um lindo parque que havia próximo a sua casa. O cheiro da chuva ali, que era cercado por lindas árvores, não se comparava ao cheiro que ela sentia de dentro de casa! Brincou um pouco no balanço como fazia há tantos anos quando ia aos parques da sua antiga cidade. Mas geralmente eles costumavam estar cheios de crianças e ali ela estava sozinha.
Ninguém diria que era ela. Logo ela! Que até então se mostrava tão fraca, tão medrosa e tão controladora das suas próprias vontades.
Ela ficou feliz por se ver assim... Livre!
Foi uma decisão difícil. Não é da noite para o dia que nos libertamos de todas as nossas amarras. Mas a escolha havia sido feita e esse era o primeiro passo.